Esta é a segunda parte do Artigo sobre o filme Planeta dos Macacos de 1968. Se você ainda não viu a primeira parte, clique aqui.
Nesta parte, vamos conhecer um pouco do filme sobre Cenário, Objeto de Cena, Miniatura e Efeito Visual.
Cenário: Cidade dos Macacos
Segundo William Creber, diretor de arte do filme, no início da produção eles tinham uma ideia mais futurista para o visual da cidade dos macacos.
Nessa ideia inicial, a cidade teria veículos voadores e construções modernas. Eles pensaram até filmar em Brasília devido ao visual arquitetônico mais futurista.
Mas em termos de orçamento ficaria muito caro. Assim o diretor optou por um visual mais primitivo e ao mesmo tempo funcional, com construções mais simples, com carruagens e cavalos.
Assim, para o visual da cidade dos macacos, eles acabaram usando como base o trabalho do arquiteto espanhol Antoni Gaudí e também a aparência de uma cidade turca chamada “Vale do Goreme”, em que as moradias parecem estar esculpidas em montanhas.
Obra de Antoni Gaudí à esquerda e Vale do Goreme à direita
Desenho conceitual da cidade dos macacos
Para construir as moradias da cidade dos macacos, a equipe usou algumas técnicas básicas, mas, ao mesmo tempo, inovadoras.
William Creber com maquete de uma casa da cidade dos macacos
Primeiro construíram estruturas de canos metálicos soldados e sobre elas a equipe colocou chapas de papelão e aplicaram spray de espuma de poliuretano sobre o papelão. Depois de seca, eles retiraram o papelão e podiam entalhar na forma desejada e aplicavam gesso ou cimento.
Créditos: 20th Century Studios©
A espuma de poliuretano era um material que estava há pouco tempo sendo usado na indústria do cinema.
Objeto de Cena e Miniatura: Nave dos Astronautas
A nave que levou os astronautas para o planeta dos macacos tinha o nome de Liberty 1. O projeto dela ficou a cargo de William Creber, diretor de arte do filme, e de Holdereed Maxy, designer de set do filme.
A nave aparece nas cenas iniciais do filme com os astronautas em seu interior e depois quando ocorre a aterrissagem no planeta dos macacos.
Na cena da queda da nave no planeta, William Creber sugeriu ao diretor do filme fazer a cena como ser o expectador estivesse dentro da nave, ou seja, uma visão subjetiva e quando a nave cai no lago, a câmera se afasta mostrando a visão de dentro da nave.
Para as cenas que mostravam o interior da nave, a equipe construiu um cenário dentro de um estúdio.
Créditos: 20th Century Studios©
Esse cenário do interior da nave apoiava-se sobre uma estrutura com suporte com articulação universal para que pudesse girar em várias direções e simular o movimento de afundamento da nave no lago.
Para as cenas que mostravam o exterior da espaçonave, a equipe construiu um modelo em tamanho real com 7 metros de comprimento e uma miniatura com cerca de 1 metro de comprimento.
Objeto de Cena da Nave dos Astronautas
Nas cenas de interação dos atores com o exterior da espaçonave eles usaram a réplica em tamanho real e na cena do afundamento eles usaram a miniatura.
A réplica em tamanho real da espaçonave foi ancorada sobre a superfície do Lago Powell no estado americano do Arizona.
A nave fica sobre um suporte mantido na posição parcialmente submersa através de tambores de 1.700 litros cheios de cimento. Para filmar as cenas no lago e conduzir os atores até a nave, a equipe fez uso de balsas.
Créditos: 20th Century Studios©
A equipe construiu a nave com madeira compensada e chapas de aço e ficava de tal forma que apenas a parte superior ficava acima da superfície.
Dentro dela havia apenas uma plataforma para os atores saírem no momento certo.
Miniatura da Nave dos Astronautas
A miniatura de 1 metro de comprimento foi feita de chapas de metal e afundada num tanque no estúdio para a cena de aterrissagem inicial do filme.
O diretor filmou o afundamento da nave em câmera lenta porque naturalmente, a miniatura sendo menor, a ação pareceria proporcionalmente mais rápida para os modelos diminutos do que para um veículo de tamanho normal.
Nessa cena de afundamento da nave, por trás da miniatura afundando dentro de um tanque, eles colocaram por trás uma detalhada pintura do horizonte do planeta.
Créditos: 20th Century Studios©
Cena Final: Miniatura e Matte Painting
Para a cena final do filme Planeta dos Macacos de 1968, que mostra uma reviravolta na estória, Rod Serling, um dos roteiristas do filme, veio com uma intrigante ideia.
Nessa ideia, o astronauta Taylor percebe que ele não está num planeta alienígena, mas sim no próprio planeta Terra pois ele se depara com uma imagem deteriorada da Estátua da Liberdade.
O diretor filmou a cena com os atores na costa do pacífico perto de Los Angeles mas para fazer as imagens da Estátua da Liberdade ele optou pelo uso de miniatura e também de uma técnica chamada de “Matte Painting”.
Mas o que é ‘Matte Painting’?
Matte Painting é uma representação pintada de uma paisagem ou cenário que permite aos cineastas criar a ilusão de um ambiente que não estava presente no dia da filmagem.
Na época do filme Planeta dos Macacos a Matte Painting era pintada como se pinta um quadro, só que eles faziam em chapas de vidro e não em telas de tecido.
Atualmente, Matte Painting é criada digitalmente em 2D ou 3D no computador.
Miniatura da Estátua da Liberdade
Antes de mostrar o personagem Taylor identificando a Estátua da Liberdade, o diretor Franklin Schaffner criou uma cena ao alto por trás da estátua mostrando a tocha e a coroa da Estátua da Liberdade.
Cena Panorâmica por trás da miniatura da tocha da Estátua da Liberdade. Créditos: 20th Century Studios©
Cena Panorâmica por trás da miniatura da coroa da Estátua da Liberdade. Créditos: 20th Century Studios©
Para isso ele optou por usar miniaturas. Tanto a tocha como a coroa da estátua da Liberdade tinham metade do tamanho real.
As miniaturas ficavam sobre um andaime com cerca de 23 metros de altura para dar a perspectiva certa. Estas miniaturas foram feitas com estrutura interna de madeira e cobertura de papelão e papel machê.
Andaime com miniaturas ao alto da tocha à esquerda e da coroa à direita. Créditos: 20th Century Studios©
Para obter a cena, a câmera precisou ficar no alto do andaime de 23 metros de altura. Como o diretor de fotografia Leon Shamroy de 66 anos e o assistente de direção se recusaram a ficar nesta altura, a missão ficou a cargo do próprio diretor Franklin Schaffner e do diretor de arte do filme, William Creber.
Matte Painting da Estátua da Liberdade
Mas para fazer a reveladora e chocante imagem frontal da Estátua da Liberdade a equipe optou por usar Matte Painting.
A pintura da Matte Painting da Estátua da Liberdade ficou a cargo do artista Emil Kosa Jr., chefe de matte painting no estúdio da Fox. Emil também fez Matte Painting para os filmes “Cleópatra” de 1963 e “A Noviça Rebelde” de 1965.
Inicialmente o diretor filmou com os atores Charlton Helston e Linda Harrison numa praia e num trecho ao fundo de rochas com musgos.
Durante o ano de 1967, Emil completou a Matte Painting da deteriorada Estátua da Liberdade para a conclusão do filme.
Emil fez a pintura da Estátua da Liberdade com tinta a óleo sobre uma chapa de vidro. A superfície extremamente lisa do vidro permitia uma grande detalhe sem as texturas de uma tela de tecido ou do papel.
Como filmaram a Matte Painting da Estátua da Liberdade
Para entendermos como a funcionava a técnica de Matte Painting, temos que ter em mente que na época as imagens se formavam no rolo do filme através de um processo fotoquímico. Ou seja, as imagens se formavam quando a luz entrava em contato com o filme.
Na imagem acima, você pode ver a imagem que a câmera captou no filme na filmagem com os atores. A área de cor preta mostra a parte da cena que foi obstruída por papel cartão preto colocado em frente à lente da câmera.
Assim, quando a cena com os atores era registrada no filme, a área preta não emitia luz para atingir a câmera. Já que essa parte do filme não foi exposta a luz, isso deixaria uma parte do quadro do filme “vazia”.
Depois a equipe rebobinou o filme e então filmou-se a pintura da Estátua da Liberdade, que iria prencher a área “vazia” do quadro do filme.
Abaixo está o resultado final da combinação das duas imagens.
Essa imagem do filme Planeta dos Macacos de 1968 se tornou uma das mais icônicas e mais conhecidas deste gênero. Infelizmente, o artista Emil Kosa Jr. faleceu sete meses depois do sucesso do lançamento do filme.
Essa cena final foi muito impactante pois não tem música, somente o som das ondas na praia com o personagem Taylor gritando e ao fundo a imagem da Estátua da Liberdade destruída.
A cena foi muito marcante pois o filme saiu numa época em que todos tinham muito medo da bomba atômica e ao ver o símbolo da liberdade do mundo destruído, levava o expectador à reflexão.
O Planeta dos Macacos de 1968 foi um filme que marcou uma geração de pessoas e estimulou muitos artistas de efeitos especiais. Foi um filme que usou os efeitos especiais de forma inteligente para auxiliar a história.
Se você ainda não assistiu ao filme, não perca a oportunidade. E também não deixe de conferir os outros artigos do blog MSFX!